O termo “Arquitetura Positiva” se refere a produzir uma arquitetura visando o carbono negativo. Embora pareça contraditório, o termo “positivo” é usado para destacar o lado bom de diminuir a pegada de carbono na arquitetura. A Arquitetura positiva para o clima é uma arquitetura que visa reverter as mudanças climáticas do nosso planeta. Mas porque isso é necessário?
- Estima-se que a construção civil seja responsável por 40% das emissões de gases poluentes do mundo.
- Na questão de quantidade de edifícios e urbanização, todo mês o mundo constrói o equivalente a uma cidade de Nova York inteira.
Ou seja, a arquitetura está diretamente ligada às mudanças climáticas e devemos atuar de forma ativa na mudança desse panorama.
Neste artigo nos aprofundaremos nas questões que envolvem uma arquitetura positiva para o clima. Vamos apresentar estratégias e ferramentas que usamos nos projetos. E por fim, tornar a arquitetura uma aliada da sustentabilidade.
Nosso objetivo será transformar construções emissores de carbono em sequestradores de carbono.
1. Propulsor da Mudança
A arquitetura está inserida no setor da construção civil, que é um grande universo que envolve as mais variadas indústrias. Desde revestimentos, mobiliário, materiais construtivos, esquadrias, e assim por diante. Além disso, ela é um objeto de consumo da sociedade.
Isso significa que a arquitetura sustentável depende de materiais de construção sustentáveis. Ou seja, depende de uma indústria com responsabilidade ambiental e social. Mas ela também se apoia em uma sociedade que valorize práticas sustentáveis. Pessoas conscientes dos impactos da arquitetura sustentável em seu cotidiano e até em sua saúde. Essa sociedade pode exigir políticas públicas e também adaptações no setor privado. Consumidores conscientes podem incomodar o mercado e modificar a indústria. Dessa forma, podemos começar a produzir uma arquitetura positiva para o planeta.
Nossa missão é implantar a cultura de consumo sustentável, começando pela escala residencial, pois entendemos que é com essa pequena mudança que impacta diretamente as famílias, que conseguiremos, com o tempo, mudar toda uma sociedade.
2. Por onde começar e porque reciclar não é a melhor opção
Comece pelo final. O primeiro passo para produzir uma arquitetura positiva para o clima é saber que alguns materiais que mais geram um impacto negativo estão sendo amplamente usados na construção civil – como por exemplo o cimento.
Abaixo temos uma lista de materiais e a quantidade de carbono que eles emitem ou sequestram (fonte: https://materialspalette.org/insulation/).
Sequestro de Carbono é a expressão utiliza para definir o processo de retirada de gás carbônico da atmosfera. Naturalmente, esse processo é realizado pelo crescimento dos vegetais por meio da fotossíntese e pela absorção do oceano e do solo.
Segundo a imagem, os materiais que emitem carbono, em ordem de quantidade, são:
- -Poliestireno extrudado (XPS)
- -Espuma de spray de célula fechada (HFC)
- -Espuma de spray de célula fechada (HFO)
- -Poliestireno expandido (EPS)
- -Manta de lã mineral
- -Manta de Fibra de Vidro
E os materiais que sequestram carbono, são:
- -Lã
- -Pacote Denso de Celulose
- -Cortiça
- -Concreto de Cânhamo
- -Fardo de Palha
De maneira geral, reduzir a emissão de gases envolve todas as fases do ciclo de vida dos materiais e do próprio edifício, e não só os materiais mas também outros fatores, como:
- -Extração da matéria-prima
- -Processamento
- -Fabricação
- -Transporte
- -Uso
- -Descarte
O ideal seria que essa lista se fechasse em um ciclo, onde o descarte é a matéria-prima do ciclo seguinte (isso é chamado também de economia circular). Transformar o descarte em matéria-prima é o que chamamos hoje de reciclagem. Contudo, o processo de reciclagem não é tão simples. Ele também envolve processamento e emissão de gases poluentes. A reciclagem engloba várias etapas:
- -Coleta de lixo
- -Separação
- -Encaminhamento
- -Novo processamento
- -Fabricação do produto
- -Transporte
- -Uso
Nesse processo, muitos materiais perdem qualidade. Isso significa que, embora a reciclagem seja positiva, ela não deve ser a primeira opção. Deveríamos primeiro pensar em reutilizar.
Certa vez ouvimos um designer de produto dizer que se um produto precisa de uma embalagem, ele não foi completamente desenvolvido e possuí sérios problemas conceituais em seu design.
3. A prática de uma arquitetura positiva para o clima
Começar pelo fim significa projetar para reutilizar, ou projetar para desmontar.
Nós como especificadores, precisamos nos orientar a utilizar materiais de construção evitando futuros descartes e propor aos nossos projetos o uso adequado de cada produto.
Uma construção é um conjunto de camadas. Existem camadas mais fixas e camadas mais flexíveis. As camadas mais fixas são a estrutura, a fachada, a cobertura, elementos que possuem um período maior de vida útil. Já as camadas mais flexíveis são as divisórias, itens pessoais, o mobiliário, a parte mais personalizada. Uma casa que é projetada para ser reutilizada considera os possíveis usos futuros. A parte fixa deve ser de fácil manutenção e a parte flexível deve permitir adaptações fáceis. Imagine uma casa sendo desmontada ao invés de demolida. Suas diversas partes podem ser reutilizadas em outras construções. Ferramentas de simulação facilitam o projeto de uma arquitetura positiva para o clima.
4. Simulações projetuais para um projeto de arquitetura positiva para o clima
A escolha de materiais sustentáveis apoia-se em uma indústria responsável pelo ciclo de vida de seu produto. Para saber como um edifício pode melhorar sua pegada de carbono, ou até sequestrar carbono, realizamos simulações. Testando diferentes materiais, as simulações vão mostrando quais são as melhores opções. Para viabilizar essas ferramentas, é necessário ter a base de dados dos materiais. Uma grande dificuldade atual é falta de transparência da indústria, que faz com que as simulações não sejam exatas. Estima-se que a margem de erro de uma simulação de pegada de carbono fique em torno de 30%. Em países com incentivos governamentais o processo é facilitado. Nesses casos, as indústrias são obrigadas a desenvolver análises de ciclo de vida. Além disso, precisam disponibilizar dados sobre a fabricação e origem dos produtos. Essas três ferramentas internacionais disponibilizam informações sobre o ciclo de vida dos produtos.
Utilizamos dessas ferramentas para projetar, considerando e adaptando a realidade do Brasil e conversando francamente com os fornecedores sobre as características e especificaçoes de cada material.
5. Sustentabilidade Holística
Nenhuma simulação pode prever como será o uso de uma casa por quem a habita. Diferenças culturais também dificultam o desenvolvimento de ferramentas internacionais padronizadas. A visão holística da sustentabilidade busca reconhecer cultura e a história da região para valorizar suas tradições. Essa aproximação humana deve ser feita na menor escala, na compreensão dos desejos, valores e anseios dos usuários. É justamente aqui que a padronização esbarra. A arquitetura positiva para o clima exige um olhar atento à pequena escala:
- -O entorno da edificação
- -Materiais locais
- -Fauna e Flora
- -Indústrias presentes na região
- -Hábitos cotidianos das pessoas
- -Vida em Comunidade
Deste modo, o ideal é que todas as escalas sejam pensadas em conjunto. Uma arquitetura completa abrange desde estudos internacionais, até hábitos locais.
Arquitetura positiva para o clima, desvendada!
Aqui passamos por todas as escalas que englobam a arquitetura positiva para o clima. Partindo da conscientização das pessoas para exigência da análise de ciclo de vida dos materiais e de uma indústria mais transparente.
De qualquer maneira, é necessário projetar para reutilizar antes de considerar a reciclagem. Ferramentas de simulação ajudam na escolha de materiais com menos pegada de carbono. Contudo, a sustentabilidade exige também uma visão holística. Se a arquitetura for executada de maneira consciente, o impacto positivo vai além das mudanças climáticas. Ele irá transformar a qualidade de vida e a saúde das pessoas.
Nós da Complemento Arquitetura estamos prontos e preparados para te ajudar e desenvolver o seu projeto com todos esses conceitos e ferramentas.